domingo, 27 de dezembro de 2009

AMOR

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar
por alguns segundos, preste atenção. Pode ser a pessoa mais importante da
sua vida.

Se os olhares se cruzarem e neste momento houver o mesmo brilho intenso
entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o
dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante e os olhos
encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do dia for essa pessoa, se a vontade de
ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um
presente divino: o amor.

Se um dia tiver que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca
receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais
que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a
outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las
com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer
momento de sua vida.

Se você conseguir em pensamento sentir o cheiro da pessoa como se ela
estivesse ali do seu lado... se você achar a pessoa maravilhosamente linda,
mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos
emaranhados...

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que
está marcado para a noite... se você não consegue imaginar, de maneira
nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...

Se você tiver a certeza que vai ver a pessoa envelhecendo e, mesmo assim,
tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela... se você preferir
morrer antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida. É uma
dádiva.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou
encontram um amor verdadeiro. Ou às vezes encontram e por não prestarem
atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer
verdadeiramente.

É o livre-arbítrio. Por isso preste atenção nos sinais, não deixe que as
loucuras do dia a dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o amor.


Carlos Drummond de Andrade

sábado, 19 de dezembro de 2009

Amar...
















Amar, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido.


Vinícius de Moraes

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A Kiss
















"A kiss is more than a touch of lips
it is a touch of two hearts,
of two souls,
of two glowing portions of the life spirit."
 
 
Fernando Pessoa

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Aonde?

Ando a chamar por ti, demente, alucinada,
Aonde estás, amor? Aonde… aonde… aonde?…
O eco ao pé de mim segreda… desgraçada…
E só a voz do eco, irônica, responde!

Estendo os braços meus! Chamo por ti ainda!
O vento, aos meus ouvidos, soluça a murmurar;
Parece a tua voz, a tua voz tão linda
Cantando como um rio banhado de luar!

Eu grito a minha dor, a minha dor intensa!
Esta saudade enorme, esta saudade imensa!
E Só a voz do eco à minha voz responde…

Em gritos, a chorar, soluço o nome teu
E grito ao mar, à terra, ao puro azul do céu:
Aonde estás, amor? Aonde… aonde… aonde?…



Florbela Espanca

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Vazio...



vazio agudo

ando meio

cheio de tudo



Paulo Leminski

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Desencanto



Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.


Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.


E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.


- Eu faço versos como quem morre.


Manuel Bandeira

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Renda-se!

Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.



Clarice Lispector

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Der König von Thule (O rei de Thule)

Era uma vez um rei em Thule leal até o túmulo,
A quem sua amada ao morrer,
Presenteou com um cálice de ouro.
Nada tinha mais valor para ele,
Ele o esvaziava a cada refeição;
E os seus olhos o acariciavam,
Cada vez que dele bebia.
Quando chegou sua hora,
Contou as cidades do reino,
E legou-as a seu herdeiro,
Mas o cálice, não.
Lá se quedou o velho bebendo,
Cercado de seus cavaleiros,
Sentado à mesa real
Na alta sala dos antepassados,
Do seu castelo à beira-mar.
Bebeu o seu último alento,
Atirou lá em baixo nas ondas o cálice sagrado.
E o viu cair, se encher e descer às profundezas,
Caíram-lhe as pálpebras, nunca mais bebeu uma gota!
 
Goethe

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Balada
















Amei-te muito, e eu creio que me quiseste
Também por um instante nesse dia
Em que tão docemente me disseste
Que amavas 'ma mulher que o não sabia.


Amei-te muito, muito! Tão risonho
Aquele dia foi, aquela tarde!...
E morreu como morre todo o sonho
Deixando atrás de si só a saudade! ...


E na taça do amor, a ambrosia
Da quimera bebi aquele dia
A tragos bons, profundos, a cantar...


O meu sonho morreu... Que desgraçada!
....................................
E como o rei de Thule da balada
Deitei também a minha taça ao mar ...

 
Florbela Espanca

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Youth















 Pintor Romântico norte-americano do século 19, Thomas Cole, fez essa tela em 1842. Esse quadro chama-se ‘Juventude’. O jovem está tentando com um braço alcançar o céu.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Versos

Versos! Versos! Sei lá o que são versos…
Pedaços de sorriso, branca espuma,
Gargalhadas de luz, cantos dispersos,
Ou pétalas que caem uma a uma…


Versos!… Sei lá! Um verso é o teu olhar,
Um verso é o teu sorriso e os de Dante
Eram o teu amor a soluçar
Aos pés da sua estremecida amante!


Meus versos!… Sei eu lá também que são…
Sei lá! Sei lá!… Meu pobre coração
Partido em mil pedaços são talvez…


Versos! Versos! Sei lá o que são versos…
Meus soluços de dor que andam dispersos
Por este grande amor em que não crês…

 
Florbela Espanca

domingo, 8 de novembro de 2009

Pensamentos e Sentimentos
















É a incerteza que nos fascina.
Tudo é maravilhoso entre brumas.

Oscar Wilde

sábado, 7 de novembro de 2009

Pós-Modernismo, Modernidade líquida ou hipermodernismo?

















Alguns autores preferem evitar o termo pós-modernidade.O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, um dos principais popularizadores do termo Pós-Modernidade no sentido de forma póstuma da modernidade, atualmente prefere usar a expressão "modernidade líquida" - uma realidade ambígua, multiforme, na qual, como na clássica expressão marxiana, tudo o que é sólido se desmancha no ar.

O filósofo francês Gilles Lipovetsky prefere o termo "hipermodernidade", por considerar não ter havido de fato uma ruptura com os tempos modernos - como o prefixo "pós" dá a entender. Segundo Lipovetsky, os tempos atuais são "modernos", com uma exarcebação de certas características das sociedades modernas, tais como o individualismo, o consumismo, a ética hedonista, a fragmentação do tempo e do espaço.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Sonhos

Ter um sonho, um sonho lindo,
Noite branda de luar,
Que se sonhasse a sorrir…
Que se sonhasse a chorar…


Ter um sonho, que nos fosse
A vida, a luz, o alento,
Que a sonhar beijasse doce
A nossa boca… um lamento…


Ser pra nós o guia, o norte,
Na vida o único trilho;
E depois ver vir a morte


Despedaçar esses laços!…
…É pior que ter um filho
Que nos morresse nos braços!


Florbela Espanca

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Pensamentos e Sentimentos



















"Quando penso em você fecho os olhos de saudade".


Cecília Meireles

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Apesar de... (eu amo!)



“Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.”




Clarice Lispector

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Isso é muita sabedoria








Clarice Lispector












Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer.

Clarice Lispector

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Tempo da travessia





















Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos
mesmos lugares ...


É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ... para sempre ...
À margem de nós mesmos...


Fernando Pessoa

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Let's have some fun!


A verdade dividida

A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.


Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 20 de outubro de 2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Educação


Segundo a OIT e UNESCO o professor brasileiro recebe o terceiro pior salário do mundo, e tem as turmas com o maior número de alunos.





Confira alguns dos dados da pesquisa e se pergunte como poderá a sociedade brasileira evoluir se os profissionais diretamente ligados à educação do cidadão, e consequentemente, à formação do país como unidade é tão desvalorizado pelo poder público?

Na Alemanha, um professor com a mesma experiência de um brasileiro, ganha, em média, US$ 30 mil por ano, mais de seis vezes a renda no Brasil. No topo da carreira e após mais de 15 anos de ensino, um professor brasileiro pode chegar a ganhar US$ 10 mil por ano. Em Portugal, o salário anual chega a US$ 50 mil, equivalente aos salários pagos aos suíços. Na Coréia, os professores primários ganham seis vezes o que ganha um brasileiro.

[...]

Com os baixos salários oferecidos no Brasil, poucos jovens acabam seguindo a carreira. Outro problema é que professores com alto nível de educação acabam deixando a profissão em busca de melhores salários.

[...]

A OIT e a Unesco dizem que o Brasil é um dos países com o maior número de alunos por classe, o que prejudica o ensino. Segundo o estudo, existem mais de 29 alunos por professor no Brasil, enquanto na Dinamarca, por exemplo, a relação é de um para dez.

[...]

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o salário médio do docente do ensino fundamental em início de carreira no Brasil é o terceiro mais baixo do mundo, no universo de 38 países desenvolvidos e em desenvolvimento. O salário anual médio de um professor na Indonésia é US$ 1.624, no Peru US$ 4.752 e no Brasil, US$ 4.818, o equivalente a R$ 11 mil. A Argentina, por sua vez, paga US$ 9.857 por ano aos professores, cerca de R$ 22 mil, exatamente o dobro.
Por que há tanta diferença?

Fonte: A Tribuna
 


quarta-feira, 14 de outubro de 2009

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Todos os caminhos


















Eu já me perguntei se o tempo poderá realizar meus sonhos e desejos,
será que eu já não sei por onde procurar ou todos os caminhos dão no mesmo e o certo é que eu não sei o que virá só posso te pedir que nunca se leve tão a sério nunca se deixe levar, que a vida é parte do mistério, é tanta coisa pra se desvendar

Por tudo que eu andei e o tanto que faltar, não dá pra se prever nem o futuro, o escuro que se vê quem sabe pode iluminar os corações perdidos sobre o muro e o certo que eu não sei o que virá, só posso te pedir que nunca se leve tão a serio, nunca se deixe levar que a vida, a nossa vida passa e não há tempo pra desperdiçar.


Lenine

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

DAS UTOPIAS

















Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!


Mário Quintana - Espelho Mágico

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Definitivo























Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...


Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Adultecer - A Dor e o Prazer de Tornar-se Adulto





















"Adultecer" é o termo sugerido para indicar o processo de tornar-se adulto, em um período que se estende entre os 20 e os 40 anos, fase em que, segundo alguns padrões sociais, o adulto jovem já deve ter definida sua vida. No livro Adultecer, os autores oferecem ao leitor vários capítulos referentes às vicissitudes contemporâneas na passagem da adolescência para a vida adulta, do adolescer ao adultecer. Em uma sociedade com intensas transformações, com valores e paradigmas sendo contestados, transformados e mesmo substituídos por outros, esta transição compreende peculiaridades significativas que, não raramente, originam situações bastante complexas. Engana-se quem acredita ser a idade adulta um momento de calmaria emocional!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Dentro Sem Fora

A vida está
dentro da vida
em si mesma circunscrita
sem saída.

Nenhum riso
nem soluço
rompe
a barreira de barulhos.

A vazão
é para o nada.

Por conseguinte
não vaza.

Ferreira Gullar

domingo, 4 de outubro de 2009

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Versos de Entreter-se

À vida falta uma parte
- seria o lado de fora -
para que visse passar
ao mesmo tempo que passa

e no final fosse apenas
um tempo de que se acorda
não um sono sem resposta.

À vida falta uma porta.

Ferreira Gullar

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Para Pensar...





















"A maior sabedoria é ter o presente como objeto maior da vida, pois ele é a única realidade, tudo o mais é imaginação. Mas poderíamos também considerar isso nossa maior maluquice, pois aquilo que existe só por um instante e some como sonho não merece um esforço sério."

Schopenhauer

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Disciplina é Liberdade!

Pode parecer estranho, mas não há nenhuma contradição. Quem tem disciplina faz o seu próprio caminho. E isso é ter liberdade. Renato Russo tinha razão!


segunda-feira, 28 de setembro de 2009

domingo, 27 de setembro de 2009

Procure os seus caminhos...

...
Procure os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!
Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se achá-lo, segure-o!
Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala.
O mais é nada.


Fernando Pessoa

sábado, 26 de setembro de 2009

Enquanto não superarmos...

















Enquanto não superarmos
a ânsia do amor sem limites,
não podemos crescer
emocionalmente.


Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um.


Fernando Pessoa

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Exausto



















Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.


Adélia Prado

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Saudade



















Hoje que a mágoa me apunhala o seio,
E o coração me rasga atroz, imensa,
Eu a bendigo da descrença em meio,
Porque eu hoje só vivo da descrença.


À noite quando em funda soledade
Minh'alma se recolhe tristemente,
Pra iluminar-me a alma descontente,
Se acende o círio triste da Saudade.


E assim afeito às mágoas e ao tormento,
E à dor e ao sofrimento eterno afeito,
Para dar vida à dor e ao sofrimento,


Da saudade na campa enegrecida
Guardo a lembrança que me sangra o peito,
Mas que no entanto me alimenta a vida.

Augusto dos Anjos

domingo, 20 de setembro de 2009

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...


Aparentemente, nem todas as coisas que acontecem em nossas vidas fazem sentido. Principalmente quando não ocorrem como gostaríamos. Mas o sentido está sempre presente. O problema é que a maioria das pessoas não enxerga as frustrações como parte natural do processo de amadurecimento do ser humano. Não que o sofrimento me agrade ou que eu saiba lidar perfeitamente com esse sentimento, longe disso! O que estou tentando dizer é que as frustrações, as dores emocionais, são reais e não podem ser simplesmente ignoradas. Precisamos aprender a administrar tudo isso e compreender que o sentido não desaparece porque estamos sofrendo e sim porque não sabemos como lidar com as situações adversas. O mais comum é fugir, achar uma válvula de escape e não encarar a realidade. Pode funcionar por algum tempo, mas ninguém conseguirá fugir de si mesmo a vida inteira. Outra reação comum, é transferir a culpa do que está passando para outro. Porém, não devemos esquecer que as coisas só acontecem porque nós as permitimos. E se as permitimos, é porque fizeram algum sentido para nós, foram reais. E agora, talvez seja a hora de prosseguirmos levando apenas o que ficou de bom e redescobrir o sentido em uma nova etapa, em uma nova fase, em um novo ciclo. O segredo é não parar, é encarar as perdas como o fim de uma etapa e começo de outra, pois o sentido pode estar na próxima etapa. Nada disso é fácil. Mas é necessário aceitar as perdas para recomeçar! Fernando Pessoa descreveu muito bem o que estou sentindo. Espero que vocês possam tirar proveito desses ensinamentos e que prossigam, ao passo que buscam o sentido.
H.S.


Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...
Fernando Pessoa

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Foi despedido do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu...
Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.
O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora...
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.
Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".
Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.
Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.
Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é! Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és...
E lembra-te:
Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Amar










Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

Florbela Espanca

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A Hora da Estrela











"Pensando bem: quem não é um acaso na vida?
Quanto a mim, só me livro de ser um acaso porque escrevo, o que é um ato que é um fato.
É quando entro em contato com forças interiores minhas, encontro através de mim o vosso Deus. Para que escrevo? E eu sei? Sei não.
Sim é verdade, às vezes também penso que não sou eu, pareço pertencer a uma gálaxia longínqua de tão estranho que sou de mim.
Sou eu? Espanto-me com meu encontro."


Trecho de A hora da estrela
Clarice Lispector

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Talvez...










A esta hora branda d’amargura,
A esta hora triste em que o luar
Anda chorando, Ó minha desventura
Onde estás tu? Onde anda o teu olhar?

A noite é calma e triste… a murmurar
Anda o vento, de leve, na doçura
Ideal do aveludado ar
Onde estrelas palpitam… Noite escura

Dize-me onde ele está o meu amor,
Onde o vosso luar o vai beijar,
Onde as vossas estrelas co fulgor

Do seu brilho de fogo o vão cobrir!
Dize-me onde ele está!… Talvez a olhar
A mesma noite linda a refulgir…

Florbela Espanca

domingo, 13 de setembro de 2009

Aprendizado










Do mesmo modo
que te abriste à alegria
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.
Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome
o que a alimenta.
Ferreira Gullar

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

TORTURA










Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida verdade, o Sentimento!
E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...

Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento...

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

Florbela Espanca

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Since feeling is first







e.e. cummings


since feeling is first
who pays any attention
to the syntax of things
will never wholly kiss you;

wholly to be a fool
while Spring is in the world

my blood approves,
and kisses are a better fate
than wisdom
lady i swear by all flowers. Don't cry
- the best gesture of my brain is less than
your eyelids' flutter which says

we are for each other; then
laugh, leaning back in my arms
for life's not a paragraph

And death i think is no parenthesis

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Doce Certeza






Florbela Espanca



Por essa vida fora hás-de adorar
Lindas mulheres, talvez; em ânsia louca,
Em infinito anseio hás de beijar
Estrelas d´ouro fulgindo em muita boca!


Hás de guardar em cofre perfumado
Cabelos d´ouro e risos de mulher,
Muito beijo d´amor apaixonado;
E não te lembrarás de mim sequer…


Hás de tecer uns sonhos delicados…
Hão de por muitos olhos magoados,
Os teus olhos de luz andar imersos!…


Mas nunca encontrarás p´la vida fora,
Amor assim como este amor que chora
Neste beijo d´amor que são meus versos!…

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

The Bluest Eye (O olho mais azul) - Toni Morrison


Cholly e Pauline Breedlove têm dois filhos: Sammy e Pecola. Seria uma típica família americana não fossem os Breedlove muito pobres e negros. A situação de marginalidade é ainda mais grave para a menina Pecola, que encontra rejeição em todos os ambientes que frequenta. Na escola, é ridicularizada até pelas outras crianças negras, pois é quem tem a pele mais escura. Em casa, o pai a oprime e a mãe prefere dedicar seu amor à família branca para a qual trabalha. Certo dia, num acesso de desespero, Cholly bebe além da conta, bate em Pauline na frente da pequena Pecola e coloca fogo na casa da família. O serviço social da cidade de Lorain, no estado de Ohio, onde moram os Breedlove, instala temporariamente a menina na casa da família MacTeer. A adolescente Claudia MacTeer, da mesma idade de Pecola, é a narradora de "O olho mais azul" e uma espécie de alter-ego da autora. É Claudia quem organiza as histórias de vida dos personagens, fazendo com que o ponto de convergência seja a trajetória de Pecola. Nos Estados Unidos da década de 40, época em que se passa a história, o padrão de beleza é exatamente o oposto daquele que a menina ostenta. Garotas negras e pobres, como ela, costumavam ganhar de presente bonecas brancas de olhos azuis e tomar leite em canecas estampadas com o rosto da atriz-mirim Shirley Temple. Todas as noites, a pequena Pecola reza para ter olhos azuis - num delirante e inconsciente desejo de redenção e ascensão social. Toni Morrison escreveu "O olho mais azul" entre 1962 e 1965. A história guarda uma íntima correspondência com a biografia da autora. Como ela mesma afirma, "o livro é uma tentativa de dramatizar a opressão que o preconceito racial pode causar na mais frágil das criaturas: uma criança negra do sexo feminino." Toni Morrison foi a primeira mulher negra a ganhar o Nobel de Literatura, em 1993.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Madame Bovary - Gustave Flaubert


Madame Bovary é o romance precurssor do Realismo europeu, polêmico em sua época, considerado imoral, chegando Flaubert a ser processado pelo governo francês. É uma narrativa que conta a história de Emma Bovary, uma mulher sonhadora e fútil, que aficcionada leitora de romances, se deixa influenciar e alienar pelas ideias românticas. Emma se casa com Charles Bovary, viúvo, médico medíocre e provinciano. O casal fixa residência na província de Tostes, porém depois de uma grande festa no luxuoso castelo de Vaubyssard, Emma deslumbrada com o luxo e a riqueza que passavam longe da sua rotina ao lado do acomodado Charles, ela convence o marido a mudarem-se para Yonville. Lá ela engravida e tem uma menina, que é entregue aos cuidados da ama-de-leite Rollet. Passam a frequentar a casa dos Bovary, o farmacêutico Homais e Leon, estudante de direito que nutre uma atração por Emma. Leon, com medo de não ser correspondido em seu amor impossível, muda-se para Paris. Sua partida entristece enormemente Emma, que se sente só e entediada. Logo Emma conhece Rodolphe, um aristocrata decadente que vive num castelo próximo a Yonville. Emma inicia um caso de amor com Rodolpe, os encontros secretos são no castelo. Mas logo o romance acaba e ela volta a sofrer, inclusive adoecendo. Tempos depois Emma reencontra Leon em Ruão e desta vez eles vivem uma história de amor. Emma passa a presentear o amante com roupas e presentes caros, endividando-se ao ponto de não conseguir saldar as promissórias. O comerciante Lheureux, a quem Emma deve, resolve cobrá-la judicialmente. Ela pede ajuda ao ex-amante Rodolphe e ao amante Leon. Nenhum deles a socorre. Desesperada numa última tentativa, Emma procura o tabelião Guillaumin para evitar a penhora da casa dela. Inútil, o tabelião ainda tenta seduzí-la. Sem saída, Emma suicida-se.
Madame Bovary é o painel de uma sociedade adoecida e sem rumo, onde a crise moral estabelecida gera a insatisfação do indivíduo que busca um sentido para a futilidade da existência.

Jane Eyre - Charlotte Brontë

Jane é uma órfã que mora com uma tia que a detesta. Após uma briga, Jane é mandada para uma escola, onde vislumbra alguns instantes de felicidade. Lá ela permanece seis anos como aluna e dois anos como professora. Decide então procurar um novo trabalho e dar um rumo diferente para sua vida. Encontra a oportunidade em Thornfield Hall, como preceptora de Adèle, a pupila de Edward Rochester. Demora um pouco para ela e o proprietário se conhecerem pessoalmente e quando isso finalmente acontece, apaixonam-se. Edward faz uma proposta de casamento e Jane aceita, porém no dia do evento ela descobre que Rochester já era casado com Bertha (mulher que enlouqueceu e que estava sendo mantida no sótão, escondida de todos). Jane resolve fugir, mas sem ter meios favoráveis, passa fome por alguns dias até ser amparada por John Rivers e suas irmãs. Após algum tempo ela descobre ser herdeira de um tio e também que seus salvadores são na realidade seus parentes (primos). Generosamente divide a herança com eles. Sir John resolve viajar como missionário e quer levar Jane na condição de sua esposa. Ela fica indecisa e resolve saber notícias de Edward antes de dar a resposta para o primo. Encontra-o cego, sendo cuidado por dois serviçais fiéis, pois sua propriedade foi destruída num incêndio provocado por Bertha, a "louca do sótão", cujo corpo presume-se que tenha sido consumido pelas chamas. Rochester perdeu a visão tentando salvar todos do fogo implacável, tornou-se mais humano e herói... Agora a situação mudou: Rochester está viúvo e precisando de auxílio, pois cego e sem recursos... Quem poderá se habilitar? Claro, ela mesma, Jane Eyre, que busca incessantemente o amor, o amor que sempre esteve longe de seu alcance, o amor que vai lhe redimir de todas as tristezas e infortúnios. Jane decide então casar-se com Rochester e ele volta a enxergar. A escritora britânica Charlotte Brontë enfatiza através desta obra, a emancipação da mulher e suas reais condições de trabalho e independência. O simbolismo está presente quando ela faz uma analogia entre a circunstância de Edward ter ficado cego e o fato dele ter mantido a esposa oculta, invisível. O livro é uma autobiografia de ficção do personagem principal, Jane Eyre. A obra tem influências de romances góticos e isso fica evidenciado no clima sombrio e de mistério que permeia quase todas as páginas, com exceção dos últimos capítulos. Uma história muito bonita e bem escrita, com doses de romantismo, esse livro quase causou a autora um processo judicial. Charlotte inspirou-se no Clergy Daughter's School, de Cowan Bridge, Lancashire e também na figura do diretor dessa instituição para caracterizar a escola onde viveu Jane e o diretor agressivo e rigoroso da mesma. Depois supostamente teve que escrever cartas desculpando-se e reconhecendo ter cometido excessos nas descrições. Seja como for, valeu a pena o percalço e todas as dificuldades que enfrentou, porque Jane Eyre é um clássico!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A Letra Escarlate - Nathaniel Hawthorne

A ficção de Nathaniel Hawthorne, cuja sólida construção estilística fez dele o primeiro grande romancista dos Estados Unidos, apresenta os dilemas de personagens que, cerceados por uma sociedade puritana, buscam o direito à liberdade afetiva. Hawthorne desce aos segredos do subconsciente reprimido, à tensão dos impulsos contraditórios, à angústia que transita da inocência à perversidade. É um moralista da ambiguidade, estilista que se expõe em recortes autobiográficos profundos. Sua obra-prima, 'A Letra Escarlate' (1850), é um romance histórico, ambientado nos Estados Unidos do século XVII. O romance foi transposto para o cinema, obtendo grande sucesso de público e de crítica.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A hora do cansaço

As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gozo acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 25 de agosto de 2009

As Sem - Razões do Amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.

Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Ai, Quem Me Dera

Ai, quem me dera terminasse a espera
Retornasse o canto simples e sem fim
E ouvindo o canto se chorasse tanto
Que do mundo o pranto se estancasse enfim

Ai, quem me dera ver morrrer a fera
Ver nascer o anjo, ver brotar a flor
Ai, quem me dera uma manhã feliz
Ai, quem me dera uma estação de amor

Ah, se as pessoas se tornassem boas
E cantassem loas e tivessem paz
E pelas ruas se abraçassem nuas
E duas a duas fossem casais

Ai, quem me dera ao som de madrigais
Ver todo mundo para sempre afim
E a liberdade nunca ser demais
E não haver mais solidão ruim

Ai, quem me dera ouvir o nunca-mais
Dizer que a vida vai ser sempre assim
E, finda a espera, ouvir na primavera
Alguém chamar por mim

Vinicius de Moraes

domingo, 23 de agosto de 2009

Velha História

Depois de atravessar muitos caminhos
Um homem chegou a uma estrada clara e extensa
Cheia de calma e luz.
O homem caminhou pela estrada afora
Ouvindo a voz dos pássaros e recebendo a luz forte do sol
Com o peito cheio de cantos e a boca farta de risos.
O homem caminhou dias e dias pela estrada longa
Que se perdia na planície uniforme.
Caminhou dias e dias…
Os únicos pássaros voaram
Só o sol ficava
O sol forte que lhe queimava a fronte pálida.
Depois de muito tempo ele se lembrou de procurar uma fonte
Mas o sol tinha secado todas as fontes.
Ele perscrutou o horizonte
E viu que a estrada ia além, muito além de todas as coisas.
Ele perscrutou o céu
E não viu nenhuma nuvem.

E o homem se lembrou dos outros caminhos.
Eram difíceis, mas a água cantava em todas as fontes
Eram íngremes, mas as flores embalsamavam o ar puro
Os pés sangravam na pedra, mas a árvore amiga velava o sono.
Lá havia tempestade e havia bonança
Havia sombra e havia luz.

O homem olhou por um momento a estrada clara e deserta
Olhou longamente para dentro de si
E voltou.

Vinícius de Moraes

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Frêmito...

Frêmito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,

Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!

E vejo-te tão longe! Sinto tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que não me amas...

E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas...

Florbela Espanca

domingo, 16 de agosto de 2009

i carry your heart with me

i carry your heart with me (i carry it in
my heart) i am never without it (anywhere
i go you go, my dear; and whatever is done
by only me is your doing, my darling)
i fear

no fate (for you are my fate,my sweet) i want
no world (for beautiful you are my world, my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you

here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life; which grows
higher than soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart

i carry your heart (i carry it in my heart)

e.e. cummings

Eu...

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

Florbela Espanca

sábado, 1 de agosto de 2009

Em Busca do Tempo Perdido

Du côté de chez Swann (No Caminho de Swann)
Marcel Proust


O primeiro título do ciclo Em Busca do Tempo Perdido, escrito ao longo de 14 anos. Nesse livro, o narrador introduz o leitor no seu universo literário a partir de rememorações da infância e da história de amor e ciúme de Swann por Odette. A obra traz uma das mais famosas passagens da literatura, quando o narrador come uma "madeleine" (tipo de bolinho) molhada no chá e vê sua consciência mergulhar involuntariamente no passado. As criaturas de Proust são vítimas desta circunstância e condição predominante: o Tempo. Não há como fugir das horas e dos dias. Nem de amanhã nem de ontem. (Samuel Beckett, escritor e dramaturgo)

Síntese
"Cessara de me sentir medíocre, contingente, mortal. De onde me teria vindo aquela poderosa alegria?" Com estas duas frases, o narrador de Em Busca do Tempo Perdido registra o momento de epifania que o fará reconstituir toda sua vida, desde a remota infância até a maturidade. A cena é aquela em que a personagem mergulha um pedaço de bolo --a famosa madeleine-- numa xícara de chá e, a partir daí, se deixa transportar pela memória. Está no começo de No Caminho de Swann, volume inicial do mais importante ciclo romanesco do século 20. Lançado por Marcel Proust em 1913, depois de ter sido recusado pelas principais editoras francesas, este livro se concentra no período de formação do protagonista: o amor intenso pela mãe e a pouca simpatia pelo pai; o ambiente familiar dominado por mulheres; os sentimentos precoces de ódio e de culpa; as temporadas na provinciana Combray, com suas histórias locais; os primeiros contatos com pessoas que iriam viver, envelhecer e desaparecer sob os olhos do narrador. Entre as muitas figuras que povoam o mundo de Proust, neste volume se destacam o rico sr. Charles Swann e a jovem e sedutora Odette de Crécy (casal interpretado no cinema por Jeremy Irons e Ornella Muti, numa adaptação do diretor alemão Volker Schlöndorff). O capítulo "Um Amor de Swann" é quase um romance à parte: um magistral estudo sobre o ciúme, talvez o melhor que a literatura já produziu.

Da Folha de S. Paulo

sexta-feira, 31 de julho de 2009

PENSAR É TRANSGREDIR

Lya Luft

Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos, para não morrermos soterrados na poesia da banalidade, embora pareça que ainda estamos vivos. Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido.
Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo. Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência : isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante : "Parar pra pensar, nem pensar !"
O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no meio do shopping, no trânsito, na frente da tevê ou do computador. Simplesmente escovando os dentes. Ou na hora da droga, do sexo sem afeto, do desafeto, do rancor, da lamúria, da hesitação e da resignação.
Sem ter programado, a gente pára pra pensar. Pode ser um susto: como espiar de um berçário confortável para um corredor com mil possibilidades. Cada porta, uma escolha. Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de promessas. Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar : reavaliar-se .
Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto. Somos demasiado frívolos: buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado a outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas. Quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores. E com as obrigações também, é claro, pois não temos sempre cinco anos de idade, quando a prioridade absoluta é dormir abraçado no urso de pelúcia e prosseguir no sono, o sonho que afinal nessa idade ainda é a vida.
Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar. Compreender: somos inquilinos de algo bem maior do que o nosso pequeno segredo individual. É o poderoso ciclo da existência. Nele todos os desastres e toda a beleza têm significado como fases de um processo. Se nos escondemos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos. Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.
Viver, como talvez morrer, é recriar-se : a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada.
Parece fácil: "escrever a respeito das coisas é fácil", já me disseram. Eu sei. Mas não é preciso realizar nada espetacular, nem desejar nada excepcional. Não é preciso nem mesmo ser brilhante, importante, admirado. Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança. Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for. E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.